L.A.M.S

sábado, setembro 8

Delírio

Vida que emana 
Deste nada que me cega,
Olhar de mil anjos! 

Deixa saber 
Que estou vivo 
Chora em mim 
Teu castigo 

Infinito grânulo 
De vidas instáveis, 
Tão perto umas das outras 
Nesta ilusão 

Infinito mar 
De cantos miseráveis 
De chorar as vozes roucas 
nunca ouvir-se-ão!

sexta-feira, junho 1

Indução

O ser que pensa 
Que quer 
Ser quem não lhe é 
Se deixa de o ser 
Sem deixar de saber 
Que não é o que quer 
Quem acha que é 
O que ele quer ser 

E não vão mudar 

O ser que pensa 
Que é 
Não o que ele quer 
Não é o que é 
Quando ele quiser, 
E deixa de ser 
Sem deixar saber 
Se quer ou não quer 
O teu mal-me-quer 

Eu sou meu nome 
Deixa eu ser 
Deixa eu viver 
Deixa eu ficar em meu canto.
Eu sou tua fome 
Deixa eu calar 
Deixa eu chorar 
Deixa eu compor o meu canto

quarta-feira, março 14

Cira

Move, move
brisa-tempo,
vem a vida 
decantar

Se não tenho
o que queres
Então por que
Continuar?

Corre, corre
Contra o tempo
vem a noite
encantar

Toda vida 
é de morte
Toda praia
é de mar.

quinta-feira, dezembro 1

Cegueira



E de repente somos todos poetas

Choramos:
Portamos armas
Mas não fomos fardados
Denunciamos
Pois não fomos furtados

Sangue e suor
Do céu retumbante
brilharam alheio
ao lar do gigante

Pernas curtas,
Olhos saltados.
Odiamos
Pois não fomos amados

"Fujam todos de mim"
Meu silêncio é praga
Minha voz é vento
Meu grito dormiu
Pr'onde foi tormento?

"Fujam todos de nós"
À morte, o amor
Ao tempo, o sabor
O triunfo é voz urente
De sonhos poucos

Choramos.

Este sonho improbo
De nascer outra vez
Só soube crescer
gemido e ranger
no coração de Tupã

segunda-feira, outubro 31

IPSE

Esqueça-te, mundo
Das dores douradas
E gotas de seda
Que estamos aqui

Fuja-te, breve
Das mágoas de prata
E ondas de cera
Que matas a dias

Rasga-me, ego
Com lâminas frias
E doces poesias
Que espantas do mundo

Devora-me, esfinge
Pois não sei o segredo
que decifra o ego
e espanta o medo
De esquecer o breve
De esquecer o mundo
De nadar no mais fundo

Decifra-me, esfinge
Pois matei o segredo
Que devora o cadeado

domingo, setembro 25

Silhueta

Silhueta
O homem anda pra luz
Formando atrás uma sombra
Que passa onde pisou
Pisa onde passou
Passou
Passou
Está passando
Passou
Já passado
Passou

sábado, setembro 24

Metalinguagem

Abro, então, os olhos
Mas fecho-os
(sem fechar)

Abro, então, a mente
(de olhos fechados)
E deixo-lhe entrar

O papel arranha a pena
(o dedo na tecla)
E vomita um poema